segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O insustentável peso do ter

Atualmente, o culto aos objetos os tornam verdadeiros deuses de um mundo materialista, onde o criador se torna escravo e o escravo se torna o senhor. A dependência criada nessa relação dialética senhor-escravo ultrapassa a funcionalidade para a qual foi criada inicialmente e o objeto passa a figurar não somente como objeto material, mas como objeto de gozo (o gozo psicanalítico), ou seja, se torna símbolo, símbolo que transporta poder e "status". Nesse sentido, como o desejo humano é um saco sem fundo e não há gozo que o satisfaça, o objeto em pouco tempo é descartado e substituído por outro com nova tecnologia e design. Assim a troca objetal passa a ser a essência da atividade humana. Nós acordamos todos os dias cercados de objetos que na maioria das vezes queremos trocar pelo último modelo da vitrine do shopping.
Na medida em que acreditamos (ou inconscientemente sentimos) que o objeto representa aquilo que falta em nós, criamos desenfreadamente na esperança de sermos mais, enganando-nos com o sentimento da posse de algo materializado, no ter. A humanidade como um todo trabalha para isso, vive para isso e esquece do seu lado humano.
Podemos então concluir que o ato criador do ser humano contribuiu durante o último século para construir uma 'penitenciária' feita por objetos que obstruem nosso caminho e nos aprisiona em um oceano de lixo objetal que acabam por sufocar a verdadeira natureza, aquela que nos nutre e sustenta.

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